Mulheres da comunidade UFBA uniram-se em prol de mulheres em vulnerabilidade social

Notícia de 08/12/2018.

 

O grupo que realiza o Projeto Quem Ama Se Toca é composto por docentes, estudantes, servidoras técnico-administrativas da UFBA
e amigas da professora Nilda Stella de Macedo Barbosa (à frente e de blusa preta) .

Movidas pelo sentimento de sororidade – que é a união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo – mulheres da Universidade Federal da Bahia uniram-se para realizar o projeto de economia solidária Quem Ama se Toca que oferecerá cursos de qualificação, voltados a outras mulheres em situação de vulnerabilidade social, visando à geração de renda. A partir do mês de janeiro de 2019, serão ministradas oficinas de capacitação nas áreas de gastronomia, artesanato, estética e serviços em parceria com as Aldeias Infantis SOS – Bahia, localizada em Lauro de Freitas, município da Região Metropolitana de Salvador.
 
De acordo com uma das idealizadoras da ação, a professora do curso  de Gastronomia da Escola de Nutrição da UFBA, Nilda Stella de Macedo Barbosa, “o projeto Quem Ama se Toca foi concebido com a intenção de qualificar pessoas interessadas, em situação de desemprego ou trabalhadores informais, para realizarem atividades individuais empreendedoras capazes de impulsionar seu desenvolvimento pessoal e funcional com o novo aprendizado e assim, contribua para a produção de renda, habilidades pessoais e empoderamento”.  Além disso, temos o propósito de prestar serviços à população e estabelecer uma relação de reciprocidade, mediante a participação na comunidade, visando à difusão das conquistas e seus benefícios resultantes, acrescentou a diretora da Escola de Nutrição, Maria da Purificação Nazaré Araújo que também faz parte do grupo e será responsável por uma das oficinas.
 
A qualificação para o mercado de trabalho se dará mediante a “promoção de um espaço de ensino e aprendizagem na manufatura de produtos, bens e serviços, bem como de atividades relacionadas que podem ser reproduzidos para comércio e venda, podendo incrementar a renda dos participantes e transformar os seus negócios” disse Purificação. E a expectativa é que “as atividades fomentem iniciativas que contribuam para o desenvolvimento da dimensão econômica da sociedade nas suas diferentes etapas dos ciclos de criação, produção, circulação, distribuição, consumo e/ou fruição de bens e serviços gerados por segmentos criativos”, completou Sampaio.
 
Para a assistente em desenvolvimento familiar e comunitário das Aldeias SOS/Bahia, Michele Santos de Jesus, o projeto Quem ama se Toca “traz a perspectiva de geração de renda, dentro da proposta de fomentar conhecimento para que as mulheres possam, através das oficinas desenvolver recursos próprios, perspectivas de vida e autonomia financeira que a maior dificuldade entre as famílias cuja maioria, é chefiada por mulheres que apenas recebem o benefício social do Bolsa Família”.  “Vai abrir portas e dar a possibilidade de autonomia familiar, pois essa geração de renda impacta na vida da criança, pois a mãe terá recursos para comprar o alimento necessário e isso vai minimizando todas as problemáticas que podem fomentar o acolhimento”, vislumbrou a profissional do serviço social.
 
As irmãs Salles – juíza da vara da Infância de Lauro de Freitas, Maria Helena e a enfermeira Cristina  –
auxiliam a professora de Gastronomia da UFBA, 
Nilda Stella no projeto sociofilatrópico. (Da esquerda para a direita)
 
O impacto positivo da inciativa também é percebido pela juíza da vara da Infância de Lauro de Freitas, Maria Helena Salles, pois sua grande dificuldade é reintegrar as crianças às suas famílias. Salles, que é a responsável por determinar o recolhimento em abrigos, das crianças em risco familiar, assegura que é preciso fortalecer as mulheres e suas famílias para que elas possam sobreviver e as crianças não voltem ao risco social.  Ela reafirma que “as oficinas serão muito importantes pois darão condições às mulheres de receberem seus filhos de volta, já que estarão preparadas para tanto”.
 
Neste primeiro momento, serão atendidas 30 mulheres, calcula a assistente social e os benefícios alcançarão cerca de 200 pessoas, pois existem famílias supernumerosas com sete, nove filhos. Ela crê “num efeito multiplicador” em concordância com Nilda Stella que acentua que “a educação e, consequentemente, a profissionalização nas áreas propostas (gastronomia, artes, estética e serviços) visam gerar conhecimento aplicável para a comunidade, rentabilidade, impulsionar a inovação e desenvolvimento de novos produtos, novas aplicações e técnicas e experiências aos sujeitos em formação”. Então, Michele vislumbra que “será possível melhorar a qualidade de vida das mulheres da comunidade com atividades efetivas que vão contemplar não apenas o aspecto econômico, mas também promover qualidade de vida através da interação social”, acredita.
 
Na visão da juíza, a proposta do grupo adequa-se perfeitamente à situação vivenciada em sua vara, em Lauro de Freitas.  Quando mulheres têm oportunidades como essa de aprender algo para ter algum meio de sobreviver, o efeito no acolhimento e desenvolvimento tranquilo das crianças é perceptível em suas famílias de origem”, reconheceu Maria Helena que diante de sua amizade com a professora  Nilda, apresentou a situação das Aldeias SOS – Bahia como objeto de trabalho para o grupo.
 
A intenção é de que, pelo menos, uma parte desse projeto sociofilantrópico torne-se  atividade fixa de extensão da Escola de Nutrição, afirma Purificação, que mesclará sua posição de professora da área da Nutrição com a ministração de uma oficina de artesanato, já que é oriunda de uma família de artesãos.  Ela argumenta que “durante as oficinas é natural conversar e daí, iremos falar sobre alimentação,  curiosidades no comer e etc e a Escola de Nutrição tem esse potencial: sempre estamos convidando a comunidade para ir à nossa escola, aos nossos laboratórios e neste caso do Quem Ama se Toca, somos nós da Escola que estamos saindo para ir à comunidade. Podemos também levá-los aos nossos laboratórios para realizar oficinas que demandem equipamentos que possuímos. É possível incorporar atividades de extensão com as Aldeias SOS Bahia e em outras comunidades também”, garante a diretora da unidade.
 
Como surgiu o projeto Quem Ama se Toca
(O vídeo acima, alusivo às reações do tratamento do câncer, foi publicado nas redes sociais e viralizou)
 
Quando a professora do curso de Gastronomia, Nilda Stella recebeu o diagnóstico de câncer de mama, no final do último mês de junho, grande parte de suas colegas docentes ficaram triste e pesarosas.  Então, ela resolveu reunir todas as amigas em sua casa, para um chá no final da tarde e contar sobre o problema de saúde de uma única vez.
 
“Eu não queria que ninguém ficasse me olhando com olhar de tristeza e senti que devíamos aproveitar a oportunidade nos tratarmos coletivamente de vários males que nos angustiavam”, lembrou. “E como estavam reunidas mulheres de várias profissões, eu propus uma tarefa: que cada uma pensasse como poderia ajudar a outra, usando o câncer como tema instigador”, disse Stella.
 
E no encontro seguinte, todas apresentaram falas conectadas com o cuidado, a saúde e as angústias vivenciadas.  Então, nasceu um sentimento mútuo na busca do cuidar-se coletivamente para esta e outras doenças e outros males da sociedade, como a vulnerabilidade social e falta de oportunidade.
 
“Movidas pelo sentimento de sororidade”, conta Sampaio, “e tocadas pelas muitas campanhas de sensibilização formamos uma aliança baseada em empatia e companheirismo e criamos esse projeto com uma dimensão solidária, política e prática para beneficiar outras mulheres”. Nilda racionaliza que “ao desenvolver um projeto de economia solidária, extrapolamos as campanhas do outubro rosa, dimensionado ações que gerassem receitas a serem distribuídas entre as mulheres assistidas e as mulheres adoecidas pelo câncer de mama. Através de atividades de capacitação de mulheres saudáveis, mas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, para serem inseridas no mercado, mediante recursos sustentáveis produzidos a partir dessas capacitações”.
 
Para a diretora da Escola de Nutrição, Maria da Purificação, “a maior importância desse projeto é a doação de cada uma de nós para transformar a vida de outras pessoas. Nesse grupo de mulheres, fomos movidas por um sentimento de comunhão para apoiar uma amiga em situação de vulnerabilidade e estamos contribuindo para melhorar a vida de outras pessoas.  O que chama atenção é a possibilidade de assumirmos esse tempo para ajudar voluntariamente. Termos o prazer de separar um dia em nossa agenda lotada para contribuir com o outro.  Isso é o que nos move”, considerou.
 
Além disso, Purificação reconhece que esse projeto também tem o potencial de melhorar a convivência e estabelecer laços mais fortes, principalmente da Escola de Nutrição.  O grupo é composto por sete docentes dos cursos de Nutrição e Gastronomia, quatro estudantes e duas servidoras técnico-administrativas de outras unidades da UFBA. Também foram agregados outros amigos de várias áreas em prol da ação. Saiba mais sobre o projeto Quem Ama Se Toca, acessando sua Fanpage e Instagram.
 
As oficinas 
 
Os cursos do projeto Quem Ama se Toca foram oferecidos gratuitamente e compostos por aulas teóricas (20%) e práticas (80%), com carga horária total de 16 horas, divididas em quatro módulos com duração média de quatro a seis horas de aula por dia. A seleção se deu após inscrição de candidatos previamente cadastrados pelas Aldeias SOS – O cadastro que foi utilizado visou mapear e classificar famílias em situação de baixa renda, em sua grande maioria pessoas desempregadas, mediante avaliação dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), por exemplo. Foram selecionadas no mínimo 10 e no máximo 30 pessoas considerando a particularidade de cada oficina. Para obter o certificado foi necessário participar de no mínimo 75% das aulas.
 
As atividades foram realizadas na Casa de Oportunidades – espaço multiuso oferecido pela Aldeias SOS, em Lauro de Freitas/BA – e as aulas forma ministradas de acordo com a disponibilidade dos instrutores voluntários, tendo sido ofertados os seguintes cursos: Gastronomia, Artesanato, Estética, Serviços.
 
As famílias e as Aldeias SOS – Bahia
 
As Aldeias SOS atuam no Brasil há mais de 50 anos, cuidando de crianças, fortalecendo suas famílias e advogando pelo direito de viver em família e comunidade. São 187 projetos em 27 localidades pelo país para que nenhuma criança tenha que crescer sozinha. O trabalho conta com o apoio financeiro de pessoas que contribuem com um valor mensal e parcerias. A obra surgiu com o educador Hermann Gmeiner, em Imst, Áustria, com o objetivo inicial de acolher crianças órfãs, vítimas da II Guerra Mundial. Com o passar do tempo o campo de atuação foi ampliado com programas para famílias, comunidades, defesa de direitos e ações voltadas à saúde e nutrição, centros educacionais e promoção de direitos das mulheres, além do auxílio em emergências. Atualmente, está em 135 países assistindo crianças em situação de vulnerabilidade social, que perderam ou estão prestes a perder os cuidados de suas famílias.
 
No Brasil, está há mais de 50 anos, presente em 10 estados e no Distrito Federal, onde atua com 187 projetos em 27 localidades para que nenhuma criança tenha que crescer sozinha. São atividades diárias que geram impactos positivos para mais de 11 mil pessoas, por meio de projetos de educação, esporte, lazer, geração de renda e empregabilidade, com foco na quebra do ciclo da pobreza e violência.
 
As Aldeias SOS estão na Bahia desde em maio de 1977 e está localizada na avenida Amarilio Thiago dos Santos, 144, no centro de Lauro de Freitas. Michele de Jesus Santos que é graduada em Serviço Social atua, no Projeto Família Assistida que não acompanha apenas a criança, mas toda a família ao seu entorno. A atividade é feita em parceria com órgãos voltados para os direitos humanos como Conselho Tutelar e Secretaria de Proteção às Mulheres, realizando um acompanhamento das famílias da comunidade que têm predisposição à fragilidade no acolhimento de crianças que são vítimas de alguma violação de direitos.  Cada família é acompanhada em sua problemáticas individuais e é elaborado um plano de Desenvolvimento Familiar (PDF). “A gente atua onde as coisas não estão bem até que a família conquiste sua autonomia e possa seguir”, explicou Michele.   Para saber mais sobre as ações consulte o site das Aldeias SOS da Bahia, pelos telefones (71) 3672-1258 e 3378-4066 ou pelo e-mail  laurodefreitas.ba@aldeiasinfantis.org.br.
 

Fonte: Edigardigital, para ver o artigo original, clique aqui.